Uma chance | One Chance

As usual, english version at the bottom.

Uma chance. Quantas vezes isto é o que pedimos para os outros quando tentamos explicar algo? Às vezes o assunto em si não é algo polêmico mas nos encontramos com várias pessoas no dia a dia que não tem a capacidade de demonstrar paciência e educação para ouvir. Mesmo que ouçam estas mesmas pessoas tem uma tendência de não serem capazes de ter mente aberta em relação ao que está sendo dito. Muito menos de contestar os seus conhecimentos e opiniões e crenças de maneira a poder, talvez, evoluir seu pensamento.

Existem temas que sempre foram difíceis de serem discutidos pela sociedade em determinados momentos históricos. Escravidão é um deles. Por muito tempo existia a noção, a nível de sociedade, de que pessoas oriundas da África, seja por nascimento ou por descendência, eram inferiores. Logo, por não serem seres humanos iguais à pessoas caucasianas elas deveriam ser escravizadas e utilizadas como mão de obra forçada. Isto demonstra uma cultura de ódio e preconceito para com pessoas negras.

Homossexualismo. Por muito tempo foi considerado uma doença mental e, em alguns países, um crime. O comportamento homossexual se exibido em público levaria uma opção a ser presa e/ou forçada a receber 'tratamento' como a castração química. Alan Turing que o diga. Ainda hoje temos pessoas homossexuais sendo espancadas nas ruas ou xingadas meramente devido a sua orientação sexual. Isto demonstra uma cultura de ódio e preconceito para com pessoas homossexuais.

Direito das mulheres. Houve, até não muito tempo atrás, a noção em voga de que mulheres estão abaixo dos homens. Que as mesmas não tem o direito de votar, de trabalhar, de se vestir como desejarem. Que deveriam se manter em casa cuidando dos filhos, lavando a roupa e cozinhando. Mesmo hoje em dia ainda existem pessoas com um pensamento tacanho e machista que acredita que mulheres são seres inferiores. Isto demonstra uma cultura de ódio e preconceito para com as mulheres.

Em determinado momento na história houve alguém, ou melhor dizendo um conjunto de pessoas, que parou e pensou: 'Será que está maneira como a sociedade pensa, e eu herdei o pensamento por criação, está correta?'. Neste momento, mesmo que a resposta fosse 'não', houve o mínimo de lucidez de alguém contestando o status quo. Ou seja, contestando se a forma como ela pensava ou como a sociedade pensava estava correta. E foi chegada a decisão que não, não está correta. Em decorrência disso houve um movimento para disseminar conhecimento de uma maneira mais abrangente junto às pessoas. Claro, esta mudança não ocorreu da noite para o dia mas em algum momento ela teve início.

Para isso acontecer no entanto é necessário obtenção de massa crítica. Ou seja, uma pessoa ou grupo de pessoas pode ser o pávio da mudança mas enquanto um número suficiente de pessoas não for afetada este pavio está fadado a se extinguir. De maneira a ser possível obter massa crítica a nível social as pessoas tem que estar dispostos a se desafiar. A ouvir os argumentos mesmo em relação à assuntos desconfortáveis (assim como foi com o racismo/escravidão, homossexualismo e direitos das mulheres). Quando digo ouvir quero dizer realmente ouvir. Parar por alguns segundos e deixar de lado seus sentimentos em relação ao assunto e os seus pré conceitos sobre o assunto e realmente refletir sobre ele. De uma maneira lógica e calma.

Sim, é possível que após esta reflexão a pessoa chegue a conclusão que suas opiniões iniciais estavam corretas e decida mantê-las. Algumas pessoas podem chegar a conclusão de que suas opiniões não estavam inteiramente corretas e irá realizar adequações as mesmas conforme seu entendimento (aumentando a massa crítica). Independentemente disso ambas estas pessoas terão dado uma chance justa ao assunto. E é isso que os muitos pedófilos pedem ao falarem de pedofilia abertamente. Uma chance.

Vejam, o assunto de pedofilia não é algo simples e fácil de se entender. Até porque hoje em dia existe muito 'conhecimento' pré-concebido e pré-formatado amplamente adotado. Também não é um assunto fácil de se falar sobre porque as pessoas que discursam sobre ele sabem que tem que enfrentar uma batalha árdua para fazer seus argumentos serem ouvidos.

Existem diversas pessoas tentando, de uma maneira paciente, aumentar a exposição do tema para a sociedade como um todo. Por exemplo, cientistas como o Dr. James Cantor, Dr. Michael Seto, Dr. Ian Mcphail, Dra. Elizabet Letorneau e muitos outros. Esta rota, a dos argumentos científicos, é algo muito importante porque através delas temos fatos analisados de uma maneira objetiva. Não existe espaço para subjetivismos e emoções na análise científica. Logo ela irá prover a base necessária para que os argumentos sobre a pedofilia sejam construídos.

Do outro lado temos vários pedófilos, de uma maneira individual e em organizações, tentando, diariamente, conversar e convencer as pessoas a ter uma distinção entre pedófilos e abusadores de crianças. Que pedofilia não significa que crianças serão abusadas sexualmente. Que aceitar pedófilos como membros funcionais da sociedade não significa abonar comportamentos criminosos como o abuso sexual infantil. Que ao aceitar pedófilos por quem eles são aumenta a qualidade de vida destas pessoas. Que muitos deles não abusaram, e nunca abusaram, de crianças. E que aqueles que abusaram de uma criança precisam sim pagar por seus erros mas também precisam de ajuda para se manterem não ofensores pelo restante de suas vidas.

Novamente, o assunto da pedofilia não é algo simples e fácil de se dialogar. Existem inúmeras pessoas que veem histórias tristes de abuso sexual infantil na televisão e pensam 'Maldito pedófilo'. Quando na verdade a maior parte dos abusos sexuais infantis não são cometidos com pedófilos. Em sua grande maioria estes abusos são conduzidos por ofensores situacionais. 

Por que situacionais? Por que estes são movidos por estados de estresse, depressão, drogas, álcool e outros. Logo em situações onde ele se encontra sozinho com uma criança (normalmente alguém conhecido ou da família) e na falta de uma companheira(o) adulta(o) a criança é abusada já que o estado mental do abusador se encontra abalado.  Nota-se que isto é uma ocorrência também em questões de abuso verbal e físico de crianças.

Entretanto, independentemente de quem são as pessoas que venham a abusar de crianças é necessário sempre fazer uma distinção. Pedofilia significa uma atração sexual por crianças pré-púberes. A palavra não significa um crime realizado contra uma criança. Assim como pedófilos são pessoas que sentem atração por crianças. A palavra pedófilo não significa abusador de criança. Esta distinção básica é, na minha opinião, um dos pontos de partida para que a pedofilia seja entendida.

Por que devemos reconhecer que pedófilos existem? Bem, primeiramente, porque eles existem. Isto é um fato. Existem diversos deles ao seu redor neste exato instante. As estatísticas dizem que entre 1% a 3% da população é pedófila. Logo, temos que ter em mente que isto é um assunto real sobre pessoas reais e que se encontram em todo lugar.

Em segundo lugar, porque ao estigmatizar de maneira tão pesada esta condição estamos condenando estas pessoas a viverem nas sombras. A nunca se tornarem parte da sociedade como membros integrais da mesma. Principalmente porque elas sentem a necessidade, justificada, de esconderem sua atração sexual sob pena de serem excomungados e ostracizados por seus parentes e amigos. Para mais detalhes, podem ler aqui e aqui.

Em terceiro lugar, porque ao aceitarmos que tais pessoas existem e que elas sentem esta atração podemos começar a suportar e ajudar estas pessoas. Veja, conforme mencionado no parágrafo anterior, a vida destas pessoas não é fácil. Entendimento e compreensão irão ajudar e muito estas pessoas a se sentirem melhores, com melhor auto estima e validação por serem como são. Pessoas bem ajustadas, ao contrário de ofensores situacionais, tem menor chance de cometerem um crime, de qualquer tipo.

Também várias destas pessoas podem querer buscar ajuda para se manterem não-ofensoras, ou não ofenderem novamente, mas para isso precisam poder ser abertas sobre quem são. Serem obrigadas a se manterem nas sombras preveni isso. Logo, manter estas pessoas estigmatizadas, assim como o assunto como um todo, pode indiretamente aumentar a probabilidade de um abuso sexual infantil.

Concluindo, temos o seguinte:

1. Pedofilia é uma condição inerente a uma pessoa. Não um crime.

2. Pedófilo é aquele que possui atração sexual por crianças, não um molestador.

3. Escolher se manter ignorante ao assunto da pedofilia possui a chance de aumentar o número de abusos sexuais infantis.

4. Os pedófilos sofrem com o preconceito e estigma pesado existente em relação a sua condição

E mais importante:

Para que toda essa questão tenha um desfecho satisfatório para todas as partes (pedófilos, crianças e sociedade) somente é necessário que você, membro da sociedade, esteja disposto a dar uma chance honesta e justa para ouvir mais sobre o assunto.

Você está preparado para isso?

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English version

One chance

One chance. How many times is it all we ask of others when we try to explain something? Sometimes the subject itself is not that polemic, but we encounter several people during our day-to-day life that lack the capacity to show patience and politeness to hear. Even if those people do hear you out, they have a tendency of not having an open mind regarding the topic at hand. Let alone to challenge and contest their knowledge and opinions and beliefs in order to, maybe, evolve their views on the subject.

There are topics that have always been difficult to be discussed by society in given time periods.

Slavery was one of them. For a long time there was the notion, at a society level, that African-born or -descended people were inferior. So, given they were not human beings equal to Caucasians, they should be enslaved and used as forced manual laborers. This demonstrates the existence of a culture of hate and prejudice toward African-descended people.

Homosexuality. For a long time it was considered a mental illness and, in some countries, a crime. Homosexual behavior displayed in public would lead a person to be arrested and/or forced to receive "treatment" such as chemical castration. Alan Turing is an example. To this day there are still homosexual people being beaten on the street or name-called based solely on their sexual orientation. This demonstrates the existence of a culture of hate and prejudice toward homosexuals.

Women’s rights. There was, and it wasn’t that long ago, the notion that women are to be placed beneath men. That they do not have the right to vote, work or simply dress as they see fit. That they should be housewives taking care of children, doing the laundry and cooking. Even today there are still some people with an antiquated and chauvinistic way of thinking that believe that women are inferiors. This demonstrates the existence of a culture of hate and prejudice toward women (and their rights).

At a given moment in history there was someone, or better yet a group of people, that stopped and wondered: “Is the way that society thinks and behaves, and from whom I derived my own ideas and patterns, correct?” At this moment, even if the answer was "no," there was a brief moment of lucidity of someone questioning the status quo.

That means contesting the way they, or even society, thought about a certain subject and if such way was correct. And arriving at the conclusion that no, it is not correct. As a consequence to that, a movement toward spreading knowledge broadly to people began. Of course, that change didn’t occur overnight, but at some point it had an origin.

In order for such movements to succeed, there is the need for critical mass. A person, or group of people, can be an ignitor for change, but until there are enough people affected, and supporting the notion, that ignitor is destined to fail and extinguish. In order for critical mass to be achieved on a society level, people need to be willing to challenge their own beliefs. To listen to arguments even regarding polemic or uncomfortable topics (as it was with racism and slavery, homosexuality and women’s rights).

When I say listen, I mean really listen. Stop what they are doing for a few moments and put aside their feelings about the subject, as well as their preconceived notions about it, and really reflect upon the subject. In a calm and logical manner.

Yes, it is possible that after that reflection the person comes to a conclusion that their original opinions are correct and decide to keep them. Some people may come to the conclusion their original opinions and beliefs weren’t entirely correct and will adjust their views accordingly (and thus increase the critical mass). Regardless of any of that, both those kinds of people will have given one chance to be fair to the subject. And that is what many pedophiles ask for when they talk about pedophilia in an open and honest manner. One chance.

Now see, pedophilia as a subject is not something easy and simple to be understood. Even more so because there is a lot of "knowledge" preconceived and preformatted about it broadly disseminated and adopted. It is also not easy to talk about pedophilia for the many people that do talk about it. Mostly because they know they will face a hard uphill battle in order to have their arguments and points come across to people’s ears and minds.

There are several people trying, in a patient manner, to increase the exposure of the subject to society. For instance, scientists like Dr. James Cantor, Dr. Michael Seto, Dr. Ian Mcphail, Dr. Elizabeth Letorneau and many others. This route, the scientific arguments one, is something very important because through it facts are analyzed in an objective manner. Without the subjective and emotional load that exists regarding the topic attached.

On the other hand, there are many pedophiles, individually or through some organizations and forums, trying, daily, to talk and convince people that there is a distinction between the terms pedophile and child molester. That pedophilia does not mean, or entitle, that children will be abused sexually. That accepting pedophiles as functional members of society does not mean condoning criminal behaviors such as child sexual molestation. That by accepting pedophiles for who they are they improve that person's quality of life. That many of them have never abused, and will never abuse, any child. And that those that have abused a child should indeed be held legally responsible for their behavior but also need help in order to keep from reoffending for the remainder of their lives.

Once again, pedophilia is not an easy and simple topic to talk about. There are innumerable people that see sad stories on the news about child sexual abuse and think "damn pedophile," when in fact most of the people that abuse children are not pedophiles. The majority of those child sex abuse cases are perpetrated by situational offenders.

Why situational offenders? Because more often than not they are motivated by states of stress, depression, drugs, alcohol and many others. So in situations where they find themselves alone with a child (usually someone they know or a relative) and with the lack of an adult partner, they offend, given their mental status is shaken up. It is important to note the same mechanism is likely behind issues of child verbal and physical abuse as well.

However, regardless of who the people are that abused a child, it is necessary to make a distinction. Pedophilia means an attraction to pre-pubescent children. The word/term does not mean a crime inflicted upon a child. Just as pedophiles are people that are sexually attracted to children, the word pedophile does not equate to child abuser/molester/rapist. This basic distinction is, in my opinion, one of the starting points for pedophilia to be understood.

Why should we recognize that pedophiles exist? Well, primarily, because they do in fact exist. It is an undeniable fact. There are plenty of them around you right now. Statistics show that around 1% to 3% of the population are pedophiles. So, we need to keep in mind this is a real issue concerning real people that are found everywhere.

Secondly, because by stigmatizing the subject in such a heavy manner we are condemning those people, pedophiles, to live in the shadows. To never become a fully integrated member of society. Especially because they feel the justified necessity to hide their attraction under penalty of being excommunicated and ostracized by their relatives and friends. For more details on that, read this and this.

Thirdly, because by accepting that these people are real and that they feel this sexual attraction, we can start supporting and helping them. As mentioned in the above paragraph, the life of these people is not easy. Understanding and empathy would surely help, in a big way, for them feel better about themselves and validated for who they are. Well-adjusted people, unlike situational offenders, have a lower chance of committing any kind of crime.

Also, there is the possibility of many of these pedophiles are seeking help in order to remain non-offending, or not offending again, but in order to do that they need to be able to be open about who they are. Being forced to live as outcasts in the fringes and shadows of society prevents that from happening. With that I think it’s possible to conclude that keeping those people stigmatized, just as with the topic as a whole, can indirectly raise the possibility of child sexual abuse.

In conclusion we have the following:
1. Pedophilia is a condition inherent to a person. Not a crime.
2. A pedophile is a person that has sexual attraction to children, not a child molester/abuser/rapist.
3. Choosing to remain ignorant to the subject of pedophilia could lead to an increase of child sex abuse.
4. Pedophiles suffer from an extreme form of prejudice and stigma regarding who they are.

More importantly:

In order for the issue to have a satisfying outcome for all parties involved (pedophiles, children, society), it is only necessary for you, as a member of society, to be willing to give an honest and fair chance of hearing more about the topic.

Are you ready for that?