A vida de um pedófilo

English version at the bottom.

A vida de uma pessoa com uma doença mental que não compreendida não é fácil e nem simples. Existem muitos sentimentos e pensamentos negativos acontecendo dentro da cabeça dessa pessoa. Muitos destes que acontecem desde o momento em que a pessoa compreendeu exatamente quem ela é. Elas carregam esses sentimentos dentro de si pela maior parte de suas vidas. Senão pelas suas vidas inteiras. Esta é a vida de um pedófilo.


Primeiramente temos que começar, obviamente, no início. No momento em que uma pessoa entende, ou compreende, que ela tem uma doença mental chamada Pedofilia. Pode parecer impossível para a maior parte das pessoas entender que isto acontece, em média, na mesma idade onde elas começaram a ter seu desenvolvimento sexual. Lembrem-se, a pedofilia afeta a sexualidade de uma pessoa diretamente. Logo é de se imaginar que os efeitos da doença comecem a aparecer no mesmo momento que esta pessoa está se desenvolvendo sexualmente tanto fisicamente quanto mentalmente.

Em média acredito que possamos dizer que a maior parte das pessoas começa a sentir atrações por outras pessoas em torno dos 11 ou 12 anos. Talvez alguns mais cedo (na forma de paixonites por adultos ou outras crianças) ou talvez alguns mais tarde. De qualquer maneira, parem e pensem agora quando isto ocorreu para vocês. Quando foi que vocês acharam atraente um colega de classe? Ou um professor(a) atraente?  Ou o irmão/irmã mais velho(a) de um amigo(a)? Esta idade, associada com a entrada na adolescência, é normalmente muito confusa para a maior parte das pessoas. O corpo está se desenvolvendo, a mente está se desenvolvendo. Normalmente é uma época de confusão profunda enquanto tentamos nos entender sexualmente.

Agora, pense que a grande maioria dos pedófilos começaram a a entender a si mesmos sexualmente também nesta mesma idade. Também neste mesmo mar de confusão e angústia. Com seus corpos se desenvolvendo e um desejo sexual nascendo e crescendo. Só que ao invés de gostarem de pessoas da sua mesma idade, ou de adultos como é tão comum, eles gostam de crianças. Muitas vezes quando isto acontece em idades mais novas, como 11 ou 12 anos, esta peculiaridade não é percebida inicialmente. Talvez a pessoa sinta atração por outras crianças de 11 anos as quais estão em sua sala de aula. Logo não é tão simples perceber neste momento que algo está diferente.

A medida que essas pessoas se tornam mais velhas é inexorável o momento em que esta percepção irá se realizar. Muitos percebem ao chegar nos 14 ou 15 anos que continuam achando crianças de 11 ou 12 anos atraentes sexualmente. Muito comum encontrar pedófilos que relatam que 'eu cresci mas a minha atração não'. Seus desejos e atrações sexuais continuam congelados no tempo enquanto seus corpos e mentes crescem em direção a maioridade.

Imaginem o quão confusos devem ser os pensamentos de uma pessoa que chega aos seus 15 ou 16 anos e finalmente percebem que sentem atrações por pessoas muito mais novas do que eles. Por crianças pequenas. Agora pensem em tudo que vocês acreditem sobre um pedófilo (de que são monstros, pervertidos, que deveriam ser mortos, que deveriam ser trancafiados. Mesmo sem terem feito nada na maior parte das vezes). Como uma pessoa, um adolescente, deve se visualizar e se entender quando tudo que lhe foi dito enquanto crescia era: "Cuidado com pedófilos que querem te machucar! Se encontrar um monstro destes corra e peça ajuda!". Este adolescente finalmente percebe que ele é um monstro se ele seguir essa lógica.

Muitas vezes isto leva a depressão profunda, desejos suicidas, paranoia constante, afastamento das pessoas em volta dela. Uma doença que já isola a pessoa, naturalmente, da maior parte da sociedade tem como consequência que esta mesma pessoa escolha se afastar mais ainda de amigos e família. Gerando um sentimento de rejeição e abandono muito forte.

Não é incomum descobrir que muitos pedófilos tentaram cometer suicídio. Alguns na idade de 14 a 16 anos. Pode ser difícil imaginar o que um adolescente dessa idade deve sentir para tentar cometer algo tão ruim. O sentimento de ódio contra si mesmo, nojo, raiva. O sentimento de isolamento por acreditar que revelar o que pensa e senta pode levar a rejeição de sua família e amigos. Do medo que alguém descubra e espalhe a notícia. 'Fulano(a) é pedófilo(a)'. De que suas vidas terminaram antes mesmo de começar.

Novamente, preciso ressaltar, que a pedofilia precisa de um maior entendimento como doença a nível de sociedade. Aliás, precisa de maior entendimento a nível médico e terapêutico também. Além de tudo, pessoas que sofrem com esta condição precisam de maior empatia por parte das pessoas. De que seja entendido que isto não é algo escolhido. Eles não são pervertidos por sentirem atrações sexuais por crianças. Que é algo inerente a eles e que não pode ser mudado. Assim como uma pessoa não pode deixar de ser heterossexual or homossexual.  Veja, não digo que é uma orientação sexual mas algo que age na orientação sexual da pessoa.

Muitas das pessoas que são pedófilas são obrigadas a adotar uma vida dupla. A serem duas pessoas distintas. Internamente quem realmente são. Externamente, quem a sociedade e sua família e amigos gostariam que ela fosse. Terão que adotar uma orientação sexual falsa para poderem viver seu dia a dia sem levantarem suspeita. Terão que se declarar hetero ou homo ou asexual. Terão que fingir que se interessam sexualmente por pessoas pelas quais elas não sentem atração nenhuma. Tudo no intuito de que seu segredo não seja exposto e que elas percam tudo.

Muitas destas pessoas se sentem mal porque acreditam estar enganando todos a sua volta. De que estão mentindo a todo momento sobre quem realmente são para pessoas que elas realmente gostam. Sentem que são estranhos perante as pessoas que estão a sua volta e que a qualquer momento a verdade será descoberta. E com isso, uma mudança radical em toda a sua vida.

Estas pessoas se sentem em conflito quando veem na rua ou no shopping ou no mercado uma criança que elas acham atraente. O interesse sexual, que na maior parte das pessoas gera uma sensação boa, nelas gera um sentimento de culpa, nojo, ódio mas contra si mesmos. Pensam 'Como isto é possível? Por que eu sou assim? Eu sou um monstro!'. Estes sentimentos podem levar a comportamentos destrutivos. Por exemplo bebida, drogas, cigarro, violência física contra si mesmos, abuso próprio mental e emocional. São pessoas perpetuamente tensas; andando sobre uma corda a vários metros do chão sem uma rede de proteção embaixo.

Por um lado é até justificável a idéia de que são bombas-relógio andando por ai. Elas vivem sob tanto tensão e stress internos fora os normais de cada dia (família, amigos, trabalho, casamento) que estão constantemente em briga interna. Querendo conter as suas atrações sexuais mas fazendo isso da maneira errada (repressão). Elas não possuem uma possibilidade de conversar com alguém para poder dividir esse peso das costas. Será tão reprovável assim que um dia elas "quebrem"? Que algo de ruim aconteça porque a sociedade não as ajudou a se gerenciarem melhor? E o resultado? Uma criança machucada.

Lembrem-se: A maior parte dos pedófilos não quer machucar uma criança apesar de sentirem atrações por ela. A maior parte consegue se controlar mas a grandes custos pessoais. A grandes sacrifícios pessoais. Entretanto alguns cedem e realizam atos ruins. Alguns são ruins (assim como mesmo pessoas não-pedófilas são ruins. Pedofilia não afeta a moralidade de uma pessoa. Falhas de caráter são inerentes a cada pessoa). Mesmo assim temos uma oportunidade única, como sociedade, de estender a mão e ajudar estas pessoas antes que algo aconteça.

A pergunta que fica é: Nós temos a coragem para fazer isso?

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English version

Life as a Pedophile

The life of a person with a not understandable mental condition is neither easy nor simple. There are many negative feelings and thoughts happening inside that person’s mind. Many of those happen ever since the moment that person realized who they were. They carry those feelings inside of them for most of their lives. If not their whole lives. That is the life of a pedophile.

First of all we need to begin at the beginning, obviously. At the moment a person realizes, or comprehends, that he/she is a pedophile. It may seem impossible for most people to realize that it happens, on average, about the same age they had their own sexual development. Remember, pedophilia is part of one’s sexuality. So it is easy to imagine that it shows up exactly at the moment the person is developing sexually both on a physical and mental level. 

On average I believe we can say most people start feeling attractions to other people around 11 or 12 years old. Maybe some sooner (as in crushes toward adults or older children/teens) or maybe a bit later. Anyway, stop and think when that happened to you. When did you feel attracted to a class colleague? Or to a teacher you found attractive? Or to a friend’s older brother or sister? That age, associated to becoming a teenager, is usually very confusing for most people. The body is developing and the mind is developing as well. Often in ways not predicted. It is usually a very confusing time while we try to make sense of ourselves on a sexual level. 

Now, think about most pedophiles trying to make sense of themselves sexually around the same age. They are also part of this sea of confusion and anguish that is usual for any teenager, with their bodies developing and a sexual attraction/desire growing. But instead of liking people their own age, or adults as is common, they like children. Sometimes when this happens at a younger age, around 11 or 12 years old, this peculiarity is not noticed initially. Maybe the person feels attracted to other 11-year-olds who are in their classroom. This is not something easy to realize at that point in time. 

As people grow older it is inexorable the moment when the realization happens. Many realize that when they are 14 or 15 years old they still find 11-year-olds or 12-year-olds sexually attractive. It is very common to find pedophiles who say, "I have grown up but my attractions did not." Their sexual attractions/desires remain frozen in time while their bodies and minds continue to grow toward adulthood. 

Imagine how confusing the thoughts must be inside someone who, having reached age 15, maybe 16, to finally realize they feel attracted to people much younger than they are. For little children. Now think about everything you believe about a pedophile (that they are monsters, perverts, they should be killed, and they should be locked for life, even when they haven’t done anything to justify that). How is someone, a teenager, supposed to think about themselves when all was told to him/her growing up was: "Watch out for pedophiles that want to hurt you! If you find a monster like them run and ask for help!" That person surely will realize they are a monster if they apply the same logic they were taught. 

Many times this leads to a severe depression, suicidal tendencies/ideations, constant paranoia, pushing people around them away. A condition that isolates the person from most of society (due to stigma and prejudice) has as a consequence that person makes a choice of isolating themselves even further from family and friends. Generating thus a feeling of rejection and abandonment that are quite strong.

It is not uncommon to find out that many pedophiles have tried to commit suicide. Some when they were 14 to 16 years old. It may be hard to imagine what a teenager at those ages must feel to try and commit suicide. The feeling of self-hate, self-loathing and rage directed at themselves. The feeling of isolation for believing, not without logic, that by revealing how they think and feel they can be rejected instantly by their family and friends. The fear of being outed and that it gets around. "John (Jane) Doe is a pedophile." That their lives are over even before they even had a chance to begin. 

Again I must point out that pedophilia needs a bigger understanding as a condition at a society level. That it needs a bigger understanding on psychiatric and therapeutic levels as well (so people can seek help if they so choose). Most of all, people with that condition need more empathy from other people. That this sexual attraction towards children is not something chosen. That they are not perverts for feeling attracted to children. That it is something inherent to them and that it cannot be changed. 

Many pedophiles are forced to adopt a double life. To be two distinct persons. Internally who they really are. Externally who society, family and friends would like them to be. They will need to adopt a fake sexual orientation to get by in their day-to-day lives without being suspected. They will have to declare themselves heterosexual or homosexual or asexual. Fake a sexual attraction to people they feel no attraction to at all. All so their secret is not exposed and they don’t lose it all.

Many of those people feel bad and sad because they believe to be deceiving all those around them. That they are lying at every moment about who they are for the people that like and love them. They feel, sometimes, like strangers amidst people around them and that at any moment the truth will be discovered. And with that, a radical change in their lives.

Some of those people suffer a great deal of conflict when they are walking down the streets, or in the mall or grocery store, and see a kid they find attractive. The sexual interest, which in most people generates a good feeling, in them generates a feeling of guilt, disgust, hatred, but all directed to themselves. They think, "How is this possible? Why I am like this? I am a monster!" Those feelings can lead to destructive behaviors. For instance, alcohol, drugs, smoking, physical and mental self-harm. They are people continuously tense; walking on a tightrope several feet above the ground with no safety net underneath. 

On one side it is possible to understand the time-bomb idea that goes around. But in a sense of self-fulfilling prophecy. Those people are so tense and experience a very deep internal stress (disregarding the usual day-to-day stress like work and so on) that they are constantly fighting themselves. Wanting to contain their sexual attractions from becoming an action, but doing so in the wrong way (via repression). They can’t talk to anyone to share this load. 

Is it hard to imagine they one day will have a meltdown? Or that something bad happens because society couldn’t accept them and help them manage it in a better way? The outcome? An abused child. So yeah, the ticking time-bomb theory is a self-fulfilling prophecy generated by a misconception society force-feeds into everyone’s mind. Including a pedophile. 

Remember: Most pedophiles do not want to harm a child, despite feeling sexually attracted to them. Most of them can manage those attractions. Some better, some at great personal costs and great personal sacrifices. However, some do cave in and commit bad acts. Some of them are indeed bad (just as non-pedophiles are. Pedophilia does NOT affect a person’s morality. Character flaws are inherent to each person.) Yet, we have a unique chance, as a society, to reach out and help and support those people. Sometimes before something happens. 

The question that remains is: Are we brave enough to do it?